segunda-feira, 13 de julho de 2009

fragmentos do cotidiano.


[foto: Fortaleza - 2008 - Cynthia Kelsiane]

Segunda-feira, fila, banco, contas, oficina: Tonhão, Marie Claire (do mês!), jornal impresso do dia. 1 hora e 20 minutos depois, hora do almoço. Pouco tempo, mesas lotadas. Uma senhora sai, eles avistam, apressam o passo e se percebem pela primeira vez. Já próximos a mesa - 4 lugares vazios numa pequena mesa fixa - sentam um de frente para o outro. Seus olhares não se cruzam. Silêncio em meio ao barulho típico dessa hora no mundo. O garçom vem: suco de laranja bem forte para ela, refrigerante para ele. - Coloco em uma só comanda? - respondem ao mesmo tempo numa sintonia mecânica quase ensaiada: - Não, não... Ela vinha de um turbilhão de emoções cotidianas: trabalho, TPM, lua cheia. Olhou (discretamente) para o prato dele. Avistou um pequeno monte verde. Brócolis. Colocou mais uma coisa na sua nota mental: aprender a gostar de brócolis vai para os planos de 2009. Pensamento tão absurdo que lembrou de Macabéa. Fração de segundos. Desvia o olhar rapidamente e transfere para a TV logo atrás do ombro direito dele. Ambos fingem discreta naturalidade. Ele olha para trás, segue o olhar dela. Acidente na BR, greve, violência, noticiava a mulher na televisão. Nenhuma novidade. Ele pousa os talheres no prato. Ela continua num turbilhão. Observa as pessoas ao redor: tantas vidas desconhecidas que se cruzam numa breve pausa. Ela pensa ainda na natureza do bicho-homem... compartilhar o momento da refeição é um ato de intimidade selvagem. Ele termina calmamente o refrigerante, enquanto ela observa o gelo não usado, derreter. Haveria sentido em mesas individuais? Sabe que não. Pagam a conta. Cada um pro seu lado. Destinos des-cruzados.

Um comentário:

Aline Lima disse...

"macabea era tão pobre, tão pobre que só comia cachorro quente", rss.