jardim em flor.

[imagem: devianart]

Olhou para o chão e suspirou. Sorriu ao ver as mãos sujas de terra. Joelhos dobrados ao chão, pés descalços. Estava um tanto quanto cansada, ela admitia, mas preferia não falar nada, apesar do silêncio e do peito cheio de palavras pulsantes. Pensou no que costumam chamar de Deus, na criação do mundo, e pegava cada semente com os movimentos mais delicados que conhecia. Sorria por dentro. Sabia dos riscos de se cultivar um jardim. Um espinho que não avisa... às vezes sementes jogadas ao vento, ao tempo..."Tudo a seu tempo", ela pensava enquanto sentia alguns raios delicados de sol que cortavam a imensidão azul. No centro do jardim ela cultivava uma flor bonita chamada saudade. Essa semente doeu um pouco em suas raízes quando foi plantada, ao sair seus primeiros ramos...mas logo ela aprendeu a lidar com a natureza daquela flor multicolorida. A saudade tinha nome, tempo certo. Tinha cheiro de infância, de proteção, de aconchego, de colo. Mas, a moça aprendera a achar aquela flor bonita e sabia que durante a vida, iria ganhar várias outras, de diferentes formas, tamanhos e cores. Aprende a cultivar o jardim nos des-acertos. Seus dedos riscam a terra deixando marcas que ela ainda não sabe como definir. Silencia que é pra ver se sossega o coração. Não compreende muito bem os ciclos e ainda tem dificuldade em acertar seu tempo com o tempo que faz. Sonha com o presente. Dormindo ou acordada. O jardim não tem muros, nem cerca. Lá, ela colocou um banquinho que decorou com as mais bonitas cores, colocou a almofada mais macia e de vez em quando lá ela senta e sossega. No seu jardim o tempo é outro e ela espera por segundos, horas, meses, anos... Outras vezes está passeando por aí, porque é no desencontro que ela se encontra. E suspira.